Liberdade e democracia <br> em causa
O processo para a ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia enquadra-se em práticas que remetem para as «mais negras páginas da História da Europa», afirmam quase 70 personalidades nacionais.
«A história já nos ensinou o que significam tais actos»
No texto divulgado anteontem, intitulado «Pela paz e contra a opressão, defender a democracia e a liberdade», os signatários, «cidadãos portugueses, com diferentes opções políticas e religiosas, formulam o veemente desejo de que o conflito termine e seja devolvido ao povo da Ucrânia, o mais depressa possível, o direito a decidir em paz e livre de ingerências externas», e lembram que «da Ucrânia chegam-nos notícias tristes sobre um conflito que a divide e faz sofrer o seu povo, e sobre símbolos e práticas que perigosamente fazem lembrar algumas das mais negras páginas da História da Europa.»
Os subscritores (ver caixa) expressam ainda «a sua preocupação e a condenação pelas perseguições a várias forças políticas – em particular as que recaem sobre o Partido Comunista da Ucrânia que recentemente viu o seu Grupo Parlamentar ser banido, e sobre o qual pende um processo iniciado pelo Governo de Kiev, visando a sua ilegalização».
«A história já nos ensinou o que significam tais actos», sublinham, antes de «em nome da democracia, da liberdade, dos direitos dos povos e em nome da paz, tão necessária na Ucrânia e no mundo», expressarem «a sua solidariedade a todos os democratas que naquele país lutam contra o fascismo, contra a opressão e pela paz.»
Juristas portugueses
acompanham processo
O julgamento que visa a ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia (PCU), que hoje, 14 de Agosto, se inicia, está a ser acompanhado pela Associação Portuguesa de Juristas Democratas (APJD). Madalena Santos e António Negrão estão em Kiev com o estatuto de observadores e em representação da APJD, cujos objectivos são recolher e posteriormente transmitir informações rigorosas sobre o processo.
Em nota à imprensa, a APJD manifestou a sua profunda preocupação considerando que «para além de violar frontalmente o quadro jurídico da União Europeia (facto tanto mais estranho e contraditório quanto a adesão à UE tem constituído um aspecto central das actuais orientações políticas do governo ucraniano), a tentativa de ilegalização de um partido político significativamente representado no parlamento nacional por força da manifestação do voto de uma expressiva percentagem de eleitores constitui, igualmente, uma frontal violação da ordem constitucional do próprio país.»
A APJD sublinha ainda que o processo ocorre num contexto de «crescente influência de grupos de extrema-direita e neo-nazis na política (incluindo a nível governamental) ucraniana, abarcando inquietantes expressões de violência por grupos paramilitares armados e bandos organizados que se têm destacado na agressão e perseguição das organizações políticas de esquerda e sindicais», e lembra que «a experiência do último século de vida da Europa indica que a tentativa de ilegalização de partidos comunistas e democratas tem constituído um passo importante para o desencadear de devastadores e criminosos processos persecutórios a que a comunidade internacional em geral e a comunidade jurídica, por definição defensora do direito e da legalidade, não podem ficar indiferentes».
Assinam o apelo
Adelino Nunes – Operário Metalúrgico, dirigente sindical
Alberto Morgado – Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros
Alfredo Maia – Jornalista
André Albuquerque - Actor
António Augusto Casais Baptista – Técnico da JAE aposentado
António Durão – Actor e Encenador
António José Avelãs Nunes - Professor Jubilado Faculdade Direito da Universidade de Coimbra
António Moreira – coordenador da União de Sindicatos de Coimbra
Arlindo Fagundes – Artista Plástico
Bernardo Colaço – Juiz Conselheiro (Jubilado)
Brito Lima- Advogado
Carlos Machado dos Santos – Oficial Superior da Marinha de Guerra (reformado)
Carlos Rodrigues – Professor Universitário
Carmen Santos - Actriz
Cecília Cavaca – Arquitecta
Celso Moreira de Oliveira – Professor
César Príncipe – Jornalista e escritor
Cláudio Torres – Arqueólogo
Fernando Caeiros – Gestor de Projectos
Fernando Casaca – Director artístico do Teatro Elefante
Fernando Martinho – Médico cirurgião
Francisco Allen Gomes – Médico psiquiatra
Francisco Duarte Mangas - Jornalista
Galopim de Carvalho - Geólogo
Gastão da Rocha Pinto Pereira – Professor aposentado
Guilherme da Fonseca – Juiz Conselheiro (Jubilado)
Guimarães Dias - Juiz Conselheiro
Ilda Figueiredo – Economista, Presidente do CPPC
Isabel Estrada Carvalhais – Professora da Universidade do Minho
Isabel Tavares – Operária Têxtil
Joana Lima – Urbanista
Joana Manuel - Actriz
João Torres – Pároco de Priscos
Joaquim Gonçalves – Presidente da Federação Distrital de Setúbal do MURPI
Joaquim Mesquita – Operário, dirigente sindical
Jorge Seabra - Médico ortopedista
José Amaro – Advogado
José António Gomes – Escritor e Professor do ensino Superior
José Luís Gomes – Psicólogo, Coordenador em Braga da Aministia Internacional
José Manuel Mota Dias - Coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Centro
José Viale Moutinho - Jornalista e escritor
Lília Santos – Professora aposentada
Luísa Ortigoso - Actriz
Manuel de Lima Bastos – Escritor e advogado aposentado
Manuel Faria de Almeida - Economista
Manuel Gusmão – Escritor
Manuel Pires da Rocha - Director do conservatório de Música de Coimbra
Manuela Silva – Professora e dirigente sindical
Margarida Leça – Professora
Margarida Tengarrinha – Artista Plástica
Maria Alcina Fernandes – Advogada
Maria Augusta Ribeiro - Professora
Maria Celeste Santos – Professora
Maria Eduarda Teixeira Neves Carvalho – Professora
Maria Júlia Gonçalves de Lima – Professora
Maria Ondina Pereira Soares Maia – Professora
Maria Virgínia da Costa e Sousa – Educadora de infância, activista da LOC
Nuno Lecoq – Arquitecto
Óscar Jordão Pires – Advogado
Paulo Anacleto - Coordenador do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses na região de Coimbra
Paulo Ralha – Sindicalista
Rosa Gadanho – Professora, dirigente Sindical
Rui Abrantes – Advogado
Sérgio Esperança - Presidente do Sindicato dos Médicos da Zona Centro
Sérgio Vinagre – Médico e Presidente da Universidade Popular do Porto
Siza Vieira – Arquitecto